terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Depoimento… Curso Vivencia no Teatro de Sombras – Morro Reuter – RS – Brasil

Porto Alegre, 29 de Janeiro de 2013.

Uma saudade sombria de uma experiência luminosa...
Passado pouco mais de uma semana, desfeitas as malas, me pego revendo as fotos, os vídeos, os materiais do Curso de Vivência no Teatro de Sombras, acontecido no período de 14 a 20 de Janeiro de 2013, em Morro Reuter – RS, e me perguntando se tudo foi real e para onde estas sensações e aprendizados vão me levar daqui pra frente, enquanto artista bonequeiro popular do Nordeste.
IMG_5728
A turma: Víctor Navarro (México), Carolina Garcia (Cia. Caixa do Elefante – Porto Alegre – Brasil), com o Preto (o nosso cão de guarda), Roger Lisboa (Cia. Lumbra – Porto Alegre – Brasil), Bethielle Kupstaitis (Porto Alegre – Brasil), Lia Celeste (Chile), Ivan Farias (Rio de Janeiro – Brasil), Ana Paula Brasil (Rio de Janeiro – Brasil), Leandro Silva (Maranhão – Brasil).
Certamente, esta experiência é um divisor de águas na minha vida, não só pela própria linguagem que tive a oportunidade de conhecer, senti e experimentar; mas também pela metodologia, o jeito de fazer o curso, como foi assumido pela Cia. Lumbra e a Caixa do Elefante; bem como o processo de formação do grupo de oficinandos, conduzido pela Caixa do Elefante e Comissão para a América Latina da UNIMA INTERNACIONAL.
São exatamente estes dois pontos que quero destacar aqui: os aprendizados e a metodologia.
Sombras: mistério, possibilidades e um caminho novo que se abre...
Quando me inscrevi para concorrer à bolsa, estava decidido pelo Curso Vivência no Teatro de Sombra, com a Cia. Lumbra, por achar que esta era uma linguagem completamente nova para mim e por eu, fora alguns vídeos no You Tube, jamais ter tido um contato com esta estética de representação. No Nordeste, o boneco impera como representante do teatro de animação, especialmente os Mamulengos, sendo nossa maior expressão neste campo. Rodando por comunidades nordestinas com o Projeto Fuzuê (Ver: http://fuzue-rede-animada.blogspot.com) no interior do Piauí, Maranhão, Ceará, Alagoas e Pernambuco, jamais tive qualquer notícia de grupo ou artista que fizesse uso do Teatro de Sombras. Conhecer mais de perto esta linguagem, na perspectiva de desenvolver algum trabalho com Sombras, era minha maior expectativa.
Logo no início do Curso, na nossa primeira vivência, vi o quanto a sombra está presente na minha vida. Cada um de nós, ao relatar sua relação com a Sombra, viu-se cheio de “Histórias de Luz e Sombras”, que remontam desde a infância, a relação com o outro, com o amor, com o encontro consigo mesmo. Descobrimos, de cara, que a Sombra – centro da vivência – não é nem de longe uma desconhecida nossa, tendo participado mais que ativamente de nossas vidas, desde nossa entrada no mundo. E isso já foi um assombro para mim!
Seleção Facebook
As sombras falam, dialogam, gritam, se fundem, se transformam... E silenciam.
Foi incrível descobrir tantas coisas!
Descobrir que a sombra tem seu próprio tempo, sua própria dinâmica...
Deixar a sombra falar...
Deixar que a nossa sombra dialogue com as outras sombras, que gere conflitos com as demais sombras, que se misturem... E que contem por si mesmas histórias.
A partir de diversos exercícios, fomos sensibilizando e “desmecanizando” os nossos sentidos para perceber a sombra e permitir que ela seja um veículo de comunicação e expressão. Tivemos noites de muitos avanços; noites de dificuldades e retrocessos, que nos ajudaram a subir um nível e alavancar nosso aprendizado. E dias ensolarados de reflexão sobre tudo isso que estávamos vivendo. Perceber a diferença entre um Teatro com Sombras e um Teatro de Sombras. Sutilezas.
IMG_5921
Um Mago das Sombras: Alexandre Fávero, da Cia. Lumbra.
Considero de muita relevância esta metodologia utilizada pelo Lumbra na condução do processo do Curso:
Alexandre Fávero nos conduz pelo caminho de descoberta do potencial da Sombra, enquanto estética, enquanto forma de expressão. É um saber que ele ajudar a brotar de dentro de cada um. Não é uma aula; é “viver o saber”, sentir o que se está aprendendo, perceber. Talvez aí o significado máximo de uma “vivência”.
Para mim, Alexandre é um mestre e um mago. Um “Dumbledore” dos mistérios das Sombras. E que não é mesquinho, pois se abre e dar tudo que possui de experiências, histórias, tentativas, materiais, suportes, para que os oficinandos possam também fazer o seu caminho no Teatro de Sombras, fazer suas descobertas. Mesmo sendo um mestre, não assume tal postura e se coloca como amigo e guia nesta jornada. É um educador e um pedagogo no sentido mais profundo da palavra (daquele que “guia a criança”, sem substituir o seu caminhar).
Mas lidar com as sombras é fazer um encontro conosco mesmo, com nossos medos, entraves, limites e potenciais. Fabiana Bigarella, enquanto psicóloga e membro do Lumbra, partindo de suas reflexões com a “Sombraterapia”, ajudou tanto o grupo, como cada participante individualmente a lidar com as diversas questões existenciais que a Sombra faz aflorar em nós. Este acompanhamento se deu em dois níveis: com o grupo e com cada um também, permitindo um processo coletivo, mas também com descobertas mais particulares, ligadas às circunstancias de cada participante. “Eu sou eu e a minha circunstância...” (Ortega y Gasset).
Roger Lisboa é o olhar sensível atrás de uma câmera, que capta o momento certo, do ângulo certo e que depois, em sessões divertidíssimas, nos permitia sermos expectadores de nós mesmos através das fotos e vídeos. E esse olhar externalizado foi muito decisivo para o aprimoramento de nosso aprendizado durante o curso.
FOTOS-ROGER_LISBOA-CIA_TEATRO_LUMBRA
Vivências que aguçam os sentidos e otimizam a percepção. Habilidades importantes para um sombrista...
As questões técnicas relacionadas ao manejo da luz, da criação da sombra, do uso dos equipamentos, os conceitos básicos (O que é preciso para existir a Sombra/ O que é preciso para existir o Teatro de Sombras), propostas de caminhos para a organização de uma Dramaturgia das Sombras... Tudo foi abordado de forma muito generosa pelo Lumbra, que abriu seus pacotes e caixas de experiência e sua biblioteca para nosso aprofundamento e inspiração. Inspiração, claro! A excelência profissional e estética do trabalho do Lumbra é acima de tudo inspirador para alguém que queira se arriscar no universo maravilhoso do Teatro de Sombras.
FOTOS-ROGER_LISBOA-CIA_TEATRO_LUMBRA1

Aprender pelo caminho da convivência e do afeto: uma segunda casa e uma segunda família no Espaço de Residência Artística Vale do Arvoredo

Algo extremamente profundo, vivido por cada um de nós no Curso Vivência no Teatro de Sombras, foi certamente a proposta sobre a qual este foi montado: Um espaço de residência artística, em que os oficinandos estão o tempo todo imerso no aprendizado, na beleza, na contemplação e na convivência. A Cia. Caixa do Elefante conseguiu o que sempre me pareceu difícil e ideal: um lugar em que não se vai para aprender alguma coisa por um tempo, mas “por todo o tempo, estando neste lugar, se está aprendendo”. Eles levaram ao pé da letra o significado de estar-se “imerso” numa experiência, que tem como bases a convivência e a afetividade.
Afetividade esta que começa quando você acaba de desembargar do Nordeste em Porto Alegre, meio perdido, meio jeca, e é recebido com sorrisos e abraços por Paulo Balardim e Carolina Garcia. E que continua em cada momento no Vale do Arvoredo... Lá, foram somados os cuidados e o carinho de Luana e Andreza, que se dedicavam a garantir sempre o nosso conforto e acolhida.
vivencialumbra
Aprender é conviver, partilhar e sorrir.
Em cada sutileza dos ambientes, nas mesas para as refeições preparadas com simplicidade e beleza, onde não faltava uma música, um perfume, uma vela, uma luz diferente, dando a cada dia e noite um novo rol de sensações, que enche o espírito de alegria e da certeza do quanto a vida é bela, o quanto é bom está ali, a vontade de ser sempre assim: viver a arte, com beleza e simplicidade.
Paulo Balardim eu já tinha ouvido falar, quando recebi uma apostila numa Oficina de Teatro de Bonecos em 2006, em Floriano, no Piauí. Havia uma citação dele na apostila, que sempre me marcou... Algo sobre uma discussão, uma defesa do teatro de bonecos ser representação teatral e a representação teatral ser a existência humana dialogando consigo mesma. Conhecer a pessoa por trás da ideia é uma experiência inusitada! Um artista extremamente capaz, e um ser humano acolhedor e simples, sempre construindo alguma coisa, pondo um tijolo em algum lugar, um “Operário do Universo”, sempre revirando e transformando as coisas ao seu redor. Parece que o Mundo é o atelier de Balardim.
Tivemos ainda a alegria de conhecer Mário de Ballenti (Cia. Caixa do Elefante), que veio nos visitar e conhecer do muito que aprendemos e construímos durante o curso.
Algo que considero de muito valor no Curso Vivencia no Teatro de Sombras foi também a condução da seleção na bolsa... Esta ideia de descentralizar as oportunidades e garantir a formação de um grupo heterogêneo, vindo de experiências muito distintas, unidos para dias de trocas. Isso potencializa muito o aprendizado e me sinto profundamente marcado por este tempo de convivência com meus colegas. Discutir a situação profissional do ator no mercado de trabalho hoje, com Ana Paula Brasil (RJ); inspirar-se na busca incessante pela coisa bem feita em Ivan Farias (RJ), um artista acima de tudo inquieto; a sensibilidade aflorada e contagiante de Luana Mara (SP); a experiência e histórias de vida de Lia Celeste (Chile); o artista completo e colaborativo, em Víctor Navarro (México) – o que o Víctor não consegue fazer?; as descobertas partilhadas por Bethielle, que consegue traduzir nos seus sentimentos, o sentimento do grupo todo. Eu vim de uma experiência de “mochilar” por comunidades do Nordeste com Bonecos, me apresentando e ensinando o pouco que sei em associações locais. Espero mesmo que minhas vivencias tenham somado com este grupo, pois eu levei muito de cada um comigo.
Penso que a UNIMA está no caminho certo quando pensa em formar grupos vindos de “escolas de vida e arte” tão diferentes. Isso aumenta a dialética do grupo, intensifica as trocas e faz da formação um divisor de águas para a vida do artista que delas participam.
Meu futuro no Teatro de Sombras...
E se esta coisa pega no Nordeste? Vai ser uma coisa linda, que não tem quem segure, gente!
Attachments_2012_12_3
Para o futuro, sim! Eu me vejo fazendo Teatro de Sombras!
Aqui e acolá me pego “brincando” com minha sombra, curtindo mais a escuridão do quarto, de onde emergem ideias fantásticas. Achei qualquer coisa de ligação entre as “Sombras e Luz” e o preto e branco simples da Xilografia que ilustra o Cordel Nordestino. Me imagino em breve contando histórias com teatro de sombra e luz, em silhuetas esteticamente xilografadas. Acho que meu projeto de pesquisa pessoal vai ser para este rumo.
O nordestino é um contador de história. Basta lembrar de Luiz Gonzaga, que adorava desfiar histórias nos foles da sanfona (e haja Karolina – com K, Seu Januário, Samarica Parteira, as presepadas de seu Lula), basta lembrar da poesia de Patativa do Assaré, rasgando no verso e na prosa a vida do povo.
Quando me pego dialogando com as Sombras, elas começam a me contar histórias... Ou sou eu encontrando histórias nelas? ...Ou são elas apenas o canal de representação de uma história que eu estou contando? Não sei. Sei que é muito mágico e que eu tenho a oportunidade de, ao voltar para o Nordeste, tornar mais presente o Teatro de Sombras por lá. Acho que vai pegar. Que vai dar certo. E vai frutificar coisas incríveis!
Gratidão, sempre... Ou uma “canção de amor, gravada num disco voador”!
Tão imaginário quanto uma canção de amor, gravada num disco voador – tema do meu projeto individual de teatro de sombras – é encontrar as palavras para agradecer às pessoas que passaram pela minha vida, nestes dias inesquecíveis em Morro Reuter. Mas quero tentar...
Cia Lumbra: Alexandre Fávero, Fabiana Bigarella e Roger Lisboa. Qual deve ser a sensação de produzir transformações únicas na vida das pessoas? Como deve ser lidar com a responsabilidade de alçar a carreira de artistas a outros patamares? Não deve ser fácil, mas vocês fazem isso com uma maestria incrível! Sou muito grato por ter conhecido vocês; e pela energia, dedicação e sensibilidade com que conduziram este processo de vida e aprendizagem no Teatro de Sombras. Que Deus os abençoe!
A meus caros colegas, obrigado pela convivência, pelos risos compartilhados, pelos abraços, pelas histórias de vida de cada um. Que nos mantenhamos em contatos, que não nos percamos de vista, para que a vida nos dê novas oportunidades de estarmos juntos, aprontando sabe lá Deus o quê... Acho que depois do Curso, o céu é o limite! E vou tentar ser mais presente na Pachanga!
À Cia Caixa do Elefante: Paulo Balardim, Carolina Garcia, Mário de Ballenti. Este espaço de residência artística é um grande projeto! Grato pela oportunidade de fazer parte disso por alguns dias e levar sensações para toda a vida.
Abraços afetuosos à Luana, Andreza. Quanta eficiência! Ainda hei de cuidar de uma casa com a mesma eficiência de vocês, deixando um rastro de beleza e perfume por onde passa.
À UNIMA, na pessoa de Susanita Freire. Obrigado pelo grande trabalho nos representando, enquanto artistas bonequeiros latino americanos. A sua atuação colabora para que tenhamos orgulho de carregar a carteira da UNIMA, como membros de uma grande e respeitável organização. Obrigado pelos e-mails, a motivação, a aposta, por acreditar em nós e no nosso trabalho, do nosso jeito e em nosso lugar.
Abraços “animados”,
Leandro Silva
Artista Bonequeiro
Fotos: Roger Lisboa (Cia. Lumbra) e Andreza Maia
Sobre o meu trabalho: http://fuzu-rede-animada.blogspot.com




















































quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Participante da Oficina de Teatro de Bonecos Pedagógico de Baturité-CE no deu um presente em vídeo…

DSCN0090

O Edinaldo Felipe, participante da Oficina de Teatro de Bonecos Pedagógico em Baturité - CE nos deu um belo presente: este vídeo com uma lembrança de nossos graciosos momentos juntos, de muita criação, risos e reflexão. Muito grato!

Link: http://www.youtube.com/embed/hvzLiR5ec5U

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Bonecos de Baturité

Bonecos de Baturité . 08-11.01

No período de 08 a 11 de Janeiro de 2013 realizamos em Baturité – CE uma Oficina de Teatro de Bonecos Pedagógico, com a participação de 14 educadores e lideranças comunitárias, crianças e famílias do Bairro Manga. O processo da oficina envolveu noções teóricas de Teatro de Animação (Conceitos, Tipos, História), práticas de confecção, manipulação e dramaturgia com Bonecos. A Oficina teve como foco ainda a reflexão sobre as contribuições do Teatro de Bonecos para o desenvolvimento social comunitário, através de suas convergencias com a Educação (Formal e Popular), a promoção da Saúde, a defesa dos Direitos Humanos e da Cidadania e a Ecologia. 

1 dia

Primeiro dia da Oficina de Teatro de Bonecos Pedagógico, em Baturité - CE.
Participantes curiosos e dispostos a compreender como o Teatro de Animação, na sua expressão mais conhecida, os Bonecos, podem enriquecer suas vidas, militância e prática profissional.
Junto com a equipe de apoio, somos cerca de 20 pessoas, embarcando nesta viagem mágica do Teatro de Bonecos. Cola, papel, tintas, etc transformando ideias em práticas. Práticas que alimentam sonhos e encantos. Encantos que vamos distribuir pelas ruas de Baturité na sexta-feira, dia 11/01/2013…

2 dia

Segundo dia da Oficina de Teatro de Bonecos Pedagógico, em Baturité – CE.
Depois de um mergulho na História do Teatro de Animação (historicidade, ancestralidade e manifestação artística universal da Humanidade), começa a emergir da criatividade dos participantes as primeiras formas e os rascunhos das primeiras histórias. A Fábrica Encantada (Oficina) trabalhando a todo vapor!

3 dia

Terceiro Dia da Oficina de Teatro de Bonecos Pedagógico, em Baturité – CE.
Numa grande explosão de cores e formas – um “big bang” criativo – nascem personagens e encantos das mãos dos participantes da Oficina.
Cada um se reconhece agora como parte da Divindade Criadora, moldando suas criações do papel machê e tecido e inflando neles a “ânima”, a energia vital que faz do Boneco um complexo autônomo, surreal e “vivo”. Cada artista participa assim do mistério da criação.

Bonecos de Baturité . 08-11.011

Quarto Dia da Oficina de Teatro de Bonecos Pedagógico, em Baturité – CE.
Saímos em cortejo pelas ruas do Bairro Manga, em Baturité-CE. Depois de três dias de reflexão, produção e construção coletiva do nosso Teatro de Bonecos Pedagógico - uma verdadeira imersão artística - hora de entregarmos os resultados do nosso trabalho a quem ele pertence de direito: ao povo, à comunidade, às crianças.

Lego   Agente Jovem de Cultura 

A Oficina de Teatro de Bonecos Pedagógico, em Baturité – CE, é uma atividade do Projeto Fuzuê, do artista bonequeiro Leandro Silva (ABTB UNIMA BRASIL), pelo qual recebeu o Prêmio "Agente Jovem de Cultura 2012" do Ministério da Cultura (Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural/ SCDC). O Boneco como instrumento de comunicação, educação popular e democratização cultural em comunidades do Nordeste Brasileiro. Eis nossa meta!